Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
Domingo, 24 de novembro de 2013 - 34º Domingo do Tempo Comum
- CRISTO, O NOSSO REI ...
«Quando estiveres no teu Reino»
Naquele tempo, os chefes dos Judeus zombavam de Jesus,
dizendo: «Salvou os outros; salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o
Eleito.»
E por cima dele havia uma inscrição: «Este é o rei dos judeus.»
Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados
insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós
também.»
Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Nem sequer
temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício?
Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que
as nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável.»
E acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no
teu Reino.»
Ele respondeu-lhe: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo
no Paraíso.»
NO TRONO DA CRUZ, UM REI ENSANGUENTADO ...
Lucas nos informa que acima de Jesus, no alto da cruz, havia
um letreiro: Este é o rei dos judeus. Sim, no trono da cruz, está assentado um rei ensaguentado!
Os evangelistas, ao descreverem os últimos momentos da vida
de Jesus, nos fornecem muitos e preciosos detalhes. Houve zombarias. “Se és alguém, se és o
enviado do Pai, se tens a ver com Deus, tu que salvaste a tantos, desce daí...”
E os soldados se compraziam em ridicularizar esse condenado à morte tão
incômodo, ali, nas vésperas das festas dos judeus...
Ao lado de Jesus, crucificado com ele está um ladrão. Dizem
que se chamava Dimas. Não se diz isso nos evangelhos. Era um homem que roubava,
um desses salteadores. Este, ouvindo as ofensas que dirigia a Jesus o outro
ladrão, o repreende e voltando-se para Jesus, diz: “Jesus, lembra-te de mim,
quando entrares do teu reinado!”. Ali estava um homem com o coração dolorido,
muito provavelmente arrependido de seus gestos e desmandos e, ao mesmo tempo
profundamente sensibilizado com esse companheiro de tormento, esse Jesus que
ali, impotente, inocente, era um trapo humano. Sua nudez era coberta pelo
sangue, um condenado inocente, morrendo com dignidade. O salteador dito “bom
ladrão” parece compreender que Jesus vai para um espaço de vida, para um reino
onde haverá de existir amor e paz. Esse
ladrão exprime fé e desejo de viver com esse
nobre Jesus ensanguentado.
E Jesus profere
palavras extremamente consoladoras: “Em verdade eu te digo hoje mesmo
estarás comigo no paraíso”. Podemos bem imaginar a alegria serena desse ladrão
sem esperança. Ele entraria pela porta do reino conduzido por seu companheiro
de tortura, esse Rei ensanguentado.
O Menino que se remexia nas palhas era o desejado das
colinas eternas. Viera da parte de Deus como centro de tudo. Desde toda
eternidade o Pai sonhara em ser amado fora da Trindade. Enviou seu Filho ao
mundo, o Verbo se fez carne. Tudo fez para Ele. Ele era objeto de todas as complacências
do coração do Pai. E Ele falou aos homens, pediu que orientassem seus corações
para o Pai. Conviveu com homens, quis ser pão, caminho, verdade, vida de todos.
E como não existe maior amor do que dar a vida pelos seus aceitou, livremente
subir até o alto da cruz e ali, despojado de tudo, dar a vida pelos seus e
assim atrair, pelo amor, ao seu coração todos os corações. Ele é Rei, Rei
despojado, Rei sem vontade de dominar, mas centro de tudo e pólo de
atração. Jesus, Rei do Mundo e Rei dos
corações sinceros! Belamente o prefácio da missa do Cristo Rei proclama: “Ele,
oferecendo-se na cruz, vítima pura e pacífica, realizou a redenção da
humanidade. Submetendo ao Seu poder toda criatura, entregará (Senhor) à Vossa
infinita majestade um reino eterno e universal: reino de verdade e de vida,
reino de santidade e de graça, reino de justiça, do amor e da paz”.
Belíssima esta página de Agostinho sobre o Cristo, Rei do
universo: “Ouvi, judeus e gentios; ouvi circuncidados, ouvi incircuncisos; ouvi
reinos de toda a terra:
“Eu não elimino a vossa soberania. Meu reino não é deste
mundo (Jo. 18,36)”. Não vos deixes
dominar pelo vão temor como aquele que Herodes, o Grande, experimentou por
ocasião do nascimento de Cristo, o qual, pretendendo eliminar Jesus, matou
inocentes ( cf. Mt. 2, 3.16). “Meu reino
não é deste mundo, diz Jesus. O que quereis? Vinde ao reino que não é deste
mundo; vinde com fé e não queirais ser cruéis levados pelo medo!
É verdade que numa profecia Cristo, falando de Deus, seu
Pai, disse: “Por ele foi constituído rei sobre Sião, seu monte santo” (Sl.
2,6), mas esta Sião e este monte não são deste mundo. O que é o reino de
Cristo? São os que creem Nele, a
propósito dos quais ele disse: “Não sois do mundo, como eu não sou da mundo”
(Jo. 17,16), mesmo querendo que eles permanecessem no mundo, por isso pede ao
Pai por eles: “Não te peço que os tires, do mundo, mas que os preserve do mal”.
(Jo. 17,15). Também aqui não diz: “O meu reino não é neste mundo”, mas afirma:
O meu reino não é deste mundo”.
E depois de ter demonstrado isto, dizendo Se o meu reino
fosse deste mundo, os meus servos combateriam por mim, para que eu não fosse
entregue aos judeus” (Jo. 18,36), não diz: “O meu reino não se encontra nesta
terra”, mas diz: O meu reino não é desta terra”. Na realidade seu reino está
nesta terra até o fim dos séculos e carrega consigo a cizânia misturada com o
grão fino (o trigo) até o momento da
colheita que se dará no fim dos tempos quando virão os ceifeiros, isto é, os
anjos e arrancarão de seu reino todos os escândalos (cf. Mt. 13,38-41).
Isso não poderia acontecer se o seu reino não estivesse
aqui, na terra. No entanto, o reino não é desta terra, porque estamos no exílio
do mundo. Aos que pertencem ao seu reino ele diz: “Vós não sois do mundo, eu os
escolhi do mundo” (Jo. 15,19).
“Ainda hoje estarás comigo no Paraíso.” (Lc. 23,43).
Esta solenidade, Cristo Rei do Universo, foi instituída pelo
Papa Pio XI, em 11 de dezembro de 1925. Com ela, conclui-se o ano litúrgico e,
de modo especial este ano, o Ano da Fé, aberto em 2012 pelo papa emérito Bento
XVI.
As leituras de hoje nos falam sobre realezas. Na primeira
leitura (2 Sm 5,1-3), Davi é ungido rei de Israel pelo povo. Esse, estando na
frente do povo, tinha como missão dirigir, apascentar, unificar as tribos de
Israel que estavam dispersas e levá-las à prosperidade, segundo a aliança feita
aos olhos do Senhor.
No Evangelho segundo São Lucas (Lc. 23,35-43), Jesus Cristo
cumpre sua missão sobre a terra: doar sua vida pela nossa redenção, servir a
humanidade. Que absurdo! Aquilo que mais os homens desprezam, Deus assume como
vitória e vida? Muitos não compreendem. Basta ler o motivo de sua condenação
inscrita sobre sua cabeça, que é vida para nós: “Este é o Rei dos judeus.”
No momento em que menos se esperava, Jesus revela-se como
portador da salvação na cruz, e a oferece ao ladrão. Assim, em Jesus, todos nós
que clamamos “lembra-te de nós”, ainda que tudo pareça perdido, sempre seremos
lembrados por Ele, porque foi do agrado do Pai conceder-nos a salvação.
São Paulo, na segunda leitura (Cl. 1,12-20), com seu hino
cristológico, enaltece o ser humano por ser o principal herdeiro do Reino de Deus e, por isso, apela
por uma vida de ação de graças, já que fomos concedidos à estima de
participarmos dessa mesma luz.
Viva Cristo Rei do Universo!
* Frei Almir Ribeiro Guimarães
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este é um espaço para você interagir comigo.
Deixe aqui seu comentário.