29ª Domingo Comum - 19 de outubro de 2014 ...
Naquele tempo, os fariseus fizeram um plano para apanhar Jesus em
alguma palavra. Então mandaram os seus discípulos, junto com alguns do partido
de Herodes, para dizerem a Jesus: "Mestre, sabemos que és verdadeiro e
que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te deixas influenciar pela opinião
dos outros, pois não julgas um homem pelas aparências. Dize-nos, pois, o que
pensas: É lícito ou não pagar imposto a César?"
Jesus percebeu a maldade deles e disse: "Hipócritas! Por que me
preparais uma armadilha? Mostrai-me a moeda do imposto!"
Levaram-lhe então a moeda. E Jesus disse: "De quem é a figura e a
inscrição desta moeda?"
Eles responderam: "De César". Jesus então lhes disse:
"Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor!
— Glória a vós, Senhor!
DAI POIS A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR, E A DEUS O QUE É DE DEUS ...
Eis, caríssimos irmãos no Senhor, a frase que resume perfeitamente a
Liturgia da Palavra deste Domingo. Frase tão conhecida, tão repetida e tão
poucamente compreendida! E, no entanto, uma das frases mais radicais e
revolucionárias do Evangelho; frase que bem serve de bandeira para os crentes
do mundo descrente de hoje.
Recordemos o contexto. Os inimigos de Jesus prepararam-lhe uma
inteligente armadilha. Primeiro o elogiaram com um elogio hipócrita, mas, fiel
à realidade, que nos mostra bem a grandeza de caráter do Senhor nosso: “Mestre,
sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te
deixas influenciar pela opinião dos outros, pois não julgas um homem pelas
aparências”. Que belo elogio! Que belo exemplo a ser seguido! Mas, eis que vem
a armadilha: “É lícito ou não pagar o imposto a César?”
Se Jesus respondesse “sim”, seria acusado de peleguismo, de
colaboracionismo com os opressores pagãos romanos, impuros e odiados pelo povo;
se respondesse “não”, seria acusado de revoltoso anti-romano diante de Pôncio
Pilatos pelos seus próprios inimigos; se respondesse “não sei”, seria
desmoralizado como um rabi incompetente e estulto. Eis, pois: a armadilha era
perfeita!
Mas, a resposta de Jesus foi mais perfeita ainda, verdadeiramente
admirável! Pediu uma moeda, perguntou de quem era a inscrição… “Então, se usais
a moeda de César, é porque César é quem manda de fato! Dai, pois, a César o que
é de César!” E, então vem o complemento. Impressionante: “Mas, dai a Deus o que
é de Deus!”
Que significa tal resposta? À primeira vista, Jesus estaria dividindo o
mundo, as realidades, em duas áreas: uma para Deus e outra para César. Deus e
César, lado a lado…
Nada disso! Ao ensinar a dar a César o que é de César, o Senhor nos
convida a respeitar as estruturas da sociedade em que vivemos, a levá-las a
sério, a bem viver nelas. César, aqui, significa o mundo em que vivemos, com
toda sua riqueza e complexidade. César é a política, César é a Pátria, a
família; César é o trabalho, o emprego, o esporte que praticamos; César são os
amigos e os sonhos nossos… Tudo quanto é humano e legítimo pode e deve ser
apreciado e respeitado pelos cristãos. Podemos dar a César o que é de César,
sem medo nem temor!
Mas, ao ensinar e exortar a dar a Deus o que é de Deus, o Senhor nos
recorda com toda seriedade que somente Deus é Deus. E o que se deve dar a Deus?
Tudo; absolutamente, tudo! De Deus é a nossa vida, de Deus é a nossa morte, de
Deus é tudo quanto temos, vivemos e somos: Dai a César o que é de César, mas
recordai que também César pertence a Deus! César não é Deus!
E aqui está o genial e admirável da resposta de Nosso Senhor. César se
julgava Deus, era chamado “Divino César”, considerava-se senhor da vida e da
morte! Ora, Jesus nega a César tal pretensão! César é somente César e, como
César, morrerá! Somente o Senhor é Deus! A ciência não é Deus, a tecnologia não
é Deus, os grandes do mundo não são Deus! Só o Senhor é Deus!
São Paulo faz eco a essas palavras de Jesus ao nos afirmar: “Tudo
pertence a vós: Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, as coisas
presentes e as futuras.Tudo é vosso; mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus”
(1Cor 3,21-23).
A grande tentação nossa é colocar no lugar de Deus os tantos césares da
vida. Não se endeusa a ciência? Não se absolutiza a tecnologia, não se adora o
sexo? Os grandes do mundo – grandes pelo poder, ou pela riqueza, ou pelo
sucesso – não se acham divinos, sem reconhecer, como Ciro, na primeira leitura
de hoje, que tudo vem de Deus, que estamos nas suas mãos, que tudo é,
misteriosamente, fruto da sua providência?
Cristão, tu deves participar da vida da humanidade, deves ser homem
entre os homens, deves participar da construção da sociedade… Tu deves saber
apreciar o que de bom e de belo existe no mundo… Mas, não te esqueças: nada
disso é Deus, nada disso merece tua adoração, nada disso deve prender teu
coração: nem família, nem pátria, nem amigos, nem posse, idéias ou poder! Só o
Senhor é Deus! A César, o que é de César; a Deus tudo, pois tudo é de Deus!
Viver assim é crer de verdade, é levar Deus a sério de verdade! Grande
ilusão nossa é pensar que podemos colocar Deus no meio de tantos e tantos
amores, de tantas e tantas paixões, fazendo dele apenas mais uma, entre tantas
realidades da vida. Não! Ele é tudo, ele é o Tudo, como dizia São Francisco de
Assis: “Tu és o Bem, todo o Bem, o Bem universal!”
Caríssimos, que na oração, na experiência da vida sacramental e na
escuta da Palavra do Senhor nós aprendamos e reconhecer Deus como Deus na nossa
vida, para que, como aconteceu com os cristãos de Tessalônica, na segunda
leitura de hoje, estejam diante de Deus sem cessar “a atuação da vossa fé, o
esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus
Cristo”. Amém.
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