Domingo da 31ª Semana do Tempo Comum - 02 de novembro de 2014 - Finados ...
“Todos aqueles que o Pai me dá virão a mim; e de modo nenhum jogarei fora
aqueles que vierem a mim. Pois eu desci do céu para fazer a vontade
daquele que me enviou e não para fazer a minha própria vontade.
E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum daqueles que o Pai me deu se perca, mas que eu ressuscite todos no último dia. Pois a vontade do meu Pai é que todos os que vêem o Filho e creem nele tenham a vida eterna; e no último dia eu os ressuscitarei.“
_ Palavra da Salvação.
_ Glória a Vós, Senhor!
Meditação:
O evangelho de João é o que mais explicita o dom da vida eterna, já, neste
mundo, permanecendo-se na eternidade finda a caminhada terrena.
No episódio da ressurreição de Lázaro, Jesus, dirigindo-se a Marta, declara:
“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra viverá. E
quem vive e crê em mim não morrerá jamais“.
Na última ceia, Jesus afirma: “Se alguém me ama guardará minha palavra e o meu
Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada“. E na primeira carta
de João lemos: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus
permanece nele“.
Assim também, no texto de hoje, na longa fala após a partilha do pão na
montanha, Jesus declara que quem vê o Filho e nele crê tem a vida eterna.
Hoje, celebramos a memória dos fiéis falecidos e é muito importante que
reflitamos profundamente no sentido que tem a morte dentro de nossa experiência
de vida cristã.
Quando celebramos o dia dos mortos, não devemos pensar somente nos que
morreram. Devemos pensar também no mistério de nossa própria morte para
despertar nossa esperança na vida definitiva, que também há de ser nossa. A
partir de nossa vida terrena devemos aprender a assumir o mistério da morte com
sentido.
É triste a realidade de uma morte absurda. Às vezes nos perguntamos: por quê
tal pessoa faleceu? Por quê esta pessoa tinha que morrer? A morte deve ter
sentido.
Jesus nos ensinou que o sentido da vida é entregá-la, que o sentido da vida é
amar. Quem aprende a morrer, é capaz de olhar com esperança para o futuro.
Por isso, a festa que hoje celebramos deve ser mais do que uma celebração de
nossa fé, com a qual olhamos o mundo dos que morreram, uma celebração de nossa
esperança, com a que queremos contemplar o mundo da salvação que há de ser
nosso.
Para ganhar a vida é preciso perdê-la. A vida que temos agora não é uma morada
definitiva, mas uma ocasião para que a pessoa possa mostrar qual é seu
verdadeiro compromisso, e este se revela quando se entrega a vida pelo bem
supremo, que é a participação do amor de Deus.
Quem faz de sua vida neste mundo o objeto último de seu compromisso, perde a
vida eterna. Quem consome sua vida em realizar a entrega até o fim, está com
Jesus, aqui e para sempre.
A ressurreição de Jesus nos convida a aprofundar o tema da vitória da vida
sobre a morte. A realidade da morte está presente no homem e na mulher e em
suas relações sociais.
A morte física é inevitável, apesar de todos os progressos da medicina. A morte
não é só o último acontecimento de nossa peregrinação na terra; é o ponto
culminante, este momento que não escapa do nosso olhar, um desafio constante
imposto ao homem e à mulher.
Não é o final do caminho, mas a porta que se abre para a libertação definitiva
com Cristo ressuscitado.
O cristão deve encarar a morte de frente, pois para a fé é a aprendizagem mais
exigente. No coração do cristianismo se encontra o Mistério Pascal, isto é, a
vitória definitiva sobre a morte, alcançada uma vez por todas em Jesus Cristo.
O ser humano não é um ser para a morte, mas para a vida com Cristo
ressuscitado. Nosso Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos: “Se o grão de
trigo não cai na terra e não morre, fica só; mas se ele morre, dá muito fruto”
(Jo 12, 24).
A auto definição de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida”, significa que a
última palavra de Jesus não é a da morte, mas a da vida.
Quando pensamos em nossos falecidos, neste dia, devemos nos sentir também
chamados a valorizar o imenso dom da vida, tão ameaçada em nosso mundo pela
guerra, violência e morte.
Nossa fé deve nos levar sempre a pensar na luta pela justiça, pelo amor, pelos
direitos humanos, no combate contra a enfermidade, que deve tornar possível a
vitória da vida sobre a morte e que deve tornar possível a esperança bem
fundamentada no futuro de vida.
Reflexão Apostólica:
Cada vez que vamos a um enterro, nos damos conta claramente que nos encontramos
na escola da vida, e que os ensinamentos que a morte de uma pessoa nos dá são
tão fortes que nunca conseguimos esquecer.
Os seus ensinamentos são tão tocantes que exercem grande influência na nossa
vida e no profundo da nossa alma. Isto porque a morte nos obriga a morrer a
cada dia: os problemas pessoais de saúde mostram isso.
Se pensarmos, na verdade, cada aniversário nosso significa que estamos mais
próximos da morte.
Se tivermos a persistência de colher tudo de bom que ela tem a nos oferecer,
com certeza veremos que tudo aquilo que num primeiro momento parece perdido é
recuperado, ao ponto até mesmo de ver que mais nada será perdido.
Quando nós cristãos, nos damos conta que a morte nos educa ao verdadeiro
sentido da vida, não à vida que nós queremos, mas à vida que Deus quis que
vivêssemos, que ela tem um valor bem maior, então não temos mais porque nos
desesperarmos perante a morte, mas sim nos enchermos de esperança.
Existe tanta injustiça nesse mundo terreno, e a morte ensina que todos somos
iguais: dela ninguém pode escapar, nem com poder, nem com dinheiro, nem com
amizades. Não há nada que se possa fazer. Nada pode fugir ao seu toque.
Aqueles que não têm fé, também têm que enfrentar este medo e mistério que é a
morte. Mas há uma diferença: enquanto os ateus buscam em vão o seu sentido, nós
o encontramos na Palavra de Cristo nosso Senhor.
Assim, o dia da morte não será um dia de tristeza nem de desespero, mas de
esperança, porque a morte não é o fim, mas um confim, uma fronteira; a morte
não separa, ela nos reúne com Deus e com todos aqueles que já fizeram esta
passagem.
Jesus, com a sua morte, pagou um preço caríssimo para nos libertar do pecado e
da morte e trazer da morte para cada um de nós, a vida, a ressurreição.
Nos diz o salmista: “O Senhor é minha luz e salvação. De quem eu terei medo? O
Senhor é a proteção da minha vida. Perante quem eu tremerei?”
É esta a verdade que brota no nosso coração, e que nos faz pôr toda a nossa
esperança no Senhor: “ao Senhor eu peço apenas uma coisa, e é só isto que eu
desejo, habitar no santuário do Senhor, por toda a minha vida, saborear a
suavidade do Senhor e contemplá-lo no seu templo”.
Às vezes, podemos até cair na besteira de pensar que sozinhos nos bastamos, ou
que só os outros morrem ou que a nossa morte vai demorar séculos para chegar;
pensar que não precisamos de horizontes que encham de sentido o nosso morrer ou
nos iludirmos de que o ter a vida seja parecer, ter, poder.
A luz que a revelação de Deus estende sobre a nossa existência, a luz que sai
do túmulo de Cristo Ressuscitado, a orientação luminosa que Deus pôs no nosso
coração, mesmo que os olhos se encham de lágrimas pela sensação de perca que a
morte inclui, nos faz dizer como Jó, o homem que bebeu até o fim o cálice
amargo da dor, da solidão, da falência: “depois que tiverem destruído esta
minha pele, na minha carne (e, portanto o nosso “eu”), verei a Deus. Eu mesmo o
verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outro”.
Esta luz se faz plena nas palavras de Jesus, aquele que veio revelar os
segredos do Pai, comunicar a vida de Deus e executar a vontade do Pai: “Esta é
a vontade do meu Pai: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, nada,
nem mesmo o nosso ser de carne, mas o ressuscite no último dia”.
Deus nos chamou à vida não pela morte, mas passando através do Filho que é a
porta, nós recebemos o prêmio da liberdade para acolhê-lo, a sua Palavra, o seu
chamado, os seus dons que ele pôs na vida de cada um e que significam
felicidade eterna.
“Deus”, diz são Paulo, “dá uma prova de amor por nós porque quando ainda éramos
pecadores, Cristo deu a sua vida para que tivéssemos a vida”.
Hoje é dia de lembrarmos os nossos mortos, lembrarmos a vida que Deus dá a
todos quantos ele chamou a si.
Hoje podemos sentir a paz, a plenitude dos bens de Deus. Hoje cada um dos
nossos caros é acolhido além dos seus limites, na sua verdadeira dimensão de
amado por Deus e na sua fidelidade ao amor.
“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá”.
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