Onde você encontra Deus? Onde você espera encontrar Deus? Elias talvez esperasse encontrá-lo no terremoto, na ventania ou no fogo. Acabou o encontrando na suavidade da brisa mansa. É uma experiência interessante: Deus está onde agente menos espera que Ele esteja.
Onde vamos encontrá-lo hoje? Nos milagres, nas grandes pregações, nas fervorosas novenas? Acredito que sim. Mas não esqueçamos de que Deus pode estar muito perto no dia a dia da vida: no Sol que nasce, na flor que desabrocha, no sorriso da criança, na conversa simples de uma velhinha enferma que deseja um pouco de atenção, na nossa casa, no nosso trabalho, na rua... Ali Deus está como a brisa mansa de Elias.
A brisa é o lugar do encontro. O barulho, por sua vez, significa, na primeira leitura, a idolatria do povo que se rendeu ao deus Baal - o deus do barulho. Hoje, na busca desenfreada por experiências religiosas, pode-se cair facilmente na idolatria de uma falsa experiência de Deus. A verdadeira experiência é o amor que se revela no silêncio. Onde reina o amor, Deus ali está. Onde está a brisa mansa, Deus ali aparece. Também vemos no Evangelho que Jesus se retirava para o silêncio o passava um bom tempo alimentando sua intimidade com o Pai. Desta intimidade brotava seu amor e confiança.
A presença de Deus também se manifesta no meio das contrariedades da vida. Elias havia caminhado muito, fugindo de Jezabel que queria matá-lo. Caiu desfalecido pelo caminho e foi encorajado por Deus para ir até o Horeb. Na profunda angústia, tem o consolo do Senhor.
Do mesmo modo, no Evangelho, Pedro encontra o Senhor no meio da tempestade. No meio do agito das ondas, Deus permite ser tentado. Permite que o discípulo o questione na condicional: “Se tu és,...” (v. 28), como que quisesse uma prova, uma confirmação. Os papéis às vezes se invertem: nós provamos a Deus, pedimos que Ele nos dê um sinal de seu poder. Na verdade, é Deus que nos prova: Ele deixa que a barca balance, deixa Pedro afundar, para provar a fé no momento de aflição. Quando Deus nos prova, quando o barco balança e tudo parece estar indo “por água abaixo”, temos a chance de clamar Àquele que tem poder para acalmar as águas porque Ele tudo pode.
Deus deseja a nossa colaboração, não quer agir sem que deixemos. Quer ver se somos capazes de ir até Ele, pois Ele já veio até nós. Pedro quer que o Senhor mostre o seu poder. Quando fazemos como Pedro o Senhor nos diz: “Vem!” Devemos ir até Ele, mesmo cheios de medo no coração, pois Deus é condescendente para com a nossa falta de fé. Porém repreende e quer uma fé ainda maior: “Homem fraco na fé, porque duvidaste?” (v. 31).
Quando Deus parecer distante, olhe com atenção ao seu redor. Ele pode estar muito perto, provando a sua fé e mostrando que sua presença não está na força poderosa, mas na suavidade da brisa. Ali Ele pedirá que você creia e deixe Ele mesmo tomar conta de sua vida. Se você permitir, vai acalmar o mar, vai pegá-lo pela mão e dizer: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (v. 27).
Pe. Roberto Nentwig - Mateus 14, 22-33
Arquidiocese de Curitiba – PR
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